sábado, 30 de maio de 2009

VIII - A VIAGEM.

Na terça-feira, dia 27 de abril de 1948, às 17:30 horas, seguimos pelo noturno da Sorocabana; rumo à Ponta Grossa, nós, o POCI, o JUTAHY, o PALMIERI e o EZIO, este, sobrinho do POCI e, por ser muito jovem, bastante impaciente para estrear na sua primeira e grande caçada. A Jaguariaíva, formosa terra dos queridos e hospitaleiros; RIBAS do “Lajeado Grande” e da “Casa Nova”, chegamos às 8:00 horas da manhã seguinte. Aguardavam-nos ali o JURANDYR, o PEDRÃO, e o gigantesco HUMBERTO CICCARINO, dono de um grande coração e de uma força muscular assombrosa; sendo ainda um dos caçadores mais espirituosos que já conhecemos. Sua verve é inata, brota como água da fonte que borbulha como a cascata! Enfim, onde está o Ciccarino, está a gargalhada... Depois dos abraços e perguntas, o JURANDYR seguiu conosco para Ponta Grossa e o JUTAHY no “Ford”, com o CICCARINO e o PEDRÃO. Com excelente viagem chegamos ã culta e prospera Ponta Grossa, trampolim de nossa caçada. Como sempre, lá estavam os infalíveis amigos MENANDRO e HELÁDIO, que acompanhados de OZIRIS, jovem e talentoso filho do MENANDRO, nos receberam jubilosos. Da estação rumamos para o Palace Hotel e, dali para a residência do MENANDRO, onde sua exma. Esposa, a distinta e bondosa dama que é D. NÔRA, nos serviu lauto almoço, atestando seu bom gosto e perícia na arte culinária, nos serviu mais ricos e deliciosos manjares, dos quais destacamos três especialidades já “patenteadas” a “Codorna”, a “empada de camarão” e o “rocambole”, três pratos digno dos Deuses do Olympo! Discursamos para saudar o distinto e acolhedor casal Menandro e significar nossa alegria por estarmos, com a graça de Deus, novamente reunidos e já nas vésperas da grande caçada. À tardinha, após algumas visitas e providencias, voltamos à casa do MENANDRO, para um lanche que mais parecia um jantar. Santo Deus! Mas “cadê” lugar para tanta coisa! É notório que o clima de Ponta Grossa ajuda a digerir depressa... Tanto é verdade, que a noite fizemos o absurdo gastronômico de jantar no hotel e, a seguir, fomos a uma “beliscada” na residência do HELÁDIO, cuja elegante e graciosa esposa D. ZELITA, nos preparara gulosa mesa de petiscos. E que mesa! Ali havia de tudo e tudo dispostos com finesse’. Como na residência do MENANDRO, a turma toda compareceu, fazendo um luxinho para comer. É sabido que o apetite do caçador é permanente e... Por isso, a turma começou a agredir os deliciosos petiscos com tamanha voracidade, que num relâmpago pouco restava daquela que tinha sido uma farta mesa de petiscos! Também, pudera!... Só o POCI e o CICCARINO liquidaram duas pirâmides de croquetes, duas de doces, uma garrafa de uísque e meia dúzia de cerveja! “Mamãe, que barbaridade!!!” Em nome da turma pedimos desculpas por essa monstruosidade pantaguélica, ao mesmo tempo em que consignamos aos distintos casais MENANDRO e HELADIO, os nossos agradecimentos por todas as gentilezas e atenções que recebemos durante nossa curta, mas “devoradora” permanência em Ponta Grossa. Transportando 15 cães perdigueiros e toda a nossa tralha de caçada, composta de víveres, bebidas, barracas, gasolina, óleo, etc... Nessa mesma tarde e após fazer boa viagem, chegou nosso caminhão, um “Chevrolet gigante” 1948, novo em folha e providencialmente contratado em Santo Amaro pelo Dr. POCI, esse notável médico e consagrado esportista que todos admiramos. Mas se o Dr. POCI, por mais essa valiosa contribuição merece louvores, estes devem ser repartidos com o proprietário do caminhão o jovem e competente sr. WAGNER, pelo cuidado e solicitude e seu tio Sr. JOSÉ IMPERIO. O Sr. WAGNER, pelo cuidado e solicitudes revelados durante a viagem de ida e volta, no acampamento e no transporte dos caçadores até os campos. O Sr. IMPÉRIO, por ter sido um dedicado colaborador nosso e do sobrinho, principalmente no desvelo com a cachorrada e ainda, pela eficiência demonstrada como exímio caçador e componente da turma. Em Ponta Grossa o caminhão apanhou o cozinheiro, o cachorreiro, os trens de cozinha e na madrugada; seguiu para a Fazenda “Capão Grande”, nosso destino, onde iríamos viver os dias mais felizes de nossa vida de caçadores! O grosso da turma partiu pela manhã, indo parte no “sedan” dirigido pelo CICCARINO e o restante na “jardineira” pilotada pelo JOÃO PEDRO MASINI, um bom caçador e ótimo companheiro, também conhecido nas rodas de Ponta Grossa pela intima alcunha de “NHÔ GANSO”. A atuação desse distinto jovem em toda a caçada, não desmentiu e nem desmereceu o justo renome do pai, que se pode orgulhar de ter perpetuado no filho, a mesma chama olímpica que ainda lhe acalenta o coração de veterano caçador. Em Guarapuava fizemos rápida visita ao bom amigo Dr. Atino Borba, brilhante causídico e figura de relevo nos meios sociais e esportivos do Paraná. Depois de havermos instruído quanto às providencias a tomar na possível chegada do governador Adhemar de Barros, flechamos diretamente para o “Capão Grande”, aonde chegamos ã tardinha. Gastamos no trajeto de 380 km, ou seja, de Ponta Grossa à Capão Grande, cerca de 10 horas! Urgia montar as barracas antes da calada da noite. E graças à cooperação geral, em menos de uma hora todo acampamento estava montado e iluminado; a cachorrada acomodada e, da cozinha, já nos aguçava o olfato o delicioso aroma dos bifes grelhados e do café, que pouco depois, forraram nossos estômagos, sendo esse o nosso primeiro jantar em plena campanha! Sim, finalmente ali estávamos todos reunidos na mais sadia e jovial das camaradagens esportivas! Nosso sonho, nosso desejo acarinhado durante um ano estava se realizando!... Tudo estava ali, sem ter sofrido a menor solução de continuidade! Os capões, a cerca de taipas que lembrava o suor dos escravos, o rio sinuoso, a cachoeira ruidosa, os campos intermináveis que se estendia ao redor, aquela noite fria, a lua e aquelas estrelas penduradas como lanternas. Sim, tudo aquilo, toda aquela gente simples, bondosa e hospitaleira, formavam aquele cenário tão familiar e que vivia iluminado na tela de nossas recordações, estava ali a nossa disposição, como um dos bens supremos da Vida! Foi nesse enlevo que adormecemos...

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