sábado, 30 de maio de 2009

XIII - O DESCANSO.

É praxe nossa, nas grandes caçadas, reservar de dois em dois dias um dia para repouso nosso e dos perdigueiros. Nesse dia o reboliço no acampamento é completo. Camas, colchões e cobertas ao sol, limpeza de armas e lavagem de roupa, praticávamos nudismo, tomávamos banho e dávamos banho nos perdigueiros, arrumávamos as barracas, limpávamos o acampamento, fotografávamos e o PALMIERI, o emérito cinegético, sempre desprendido, filmava as melhores cenas. Como nos anos anteriores, muitas e muitas vezes, renunciou até o prazer de caçar, a fim de filmar companheiros ou fazes da caçada! Estamos certos de que ele, com a competência de sempre, soube fixar nos celulóide os ângulos mais interessantes. De permeio a essa atividade febril, atendíamos aos fazendeiros que vinham retribuir nossas visitas e aos quais distraiamos com palestras ou com a rica “coleção de cartões”, quase sempre passada de mão em mão com explosões de gargalhadas... O total da caça era dividido em partes iguais entre todos os caçadores da turma, sendo digna de registro a amável desistência do MENANDRO e do HELADIO, cujo total reverteu em beneficio dos demais companheiros. A fiscalização do desvisceramento da caça, a separação, a contagem e acondicionamento em sacos de lona, cuja cor variava para cada grupo de 4 caçadores. Era tarefa por demais árdua e dela se desincumbiu, impecavelmente, o Dr. JURANDYR VIANNA ESTEVES, nosso chefe insubstituível e principal esteio de todo o sucesso de mais essa grande caçada! Nesse dia, também se fazia a verificação do “Livro-Caixa”, de cuja contabilização esteve encarregado o simpático PEDRÃO, esse fidalgo companheiro que em poucos anos se revelou uma das maiores figuras da cinegética paranaense. Obrigado discricionariamente pela turma a improvisar-se perito na difícil arte dos números, nosso PEDRÃO fez alguns pequenos enganos... Lançou parcelas do “debito” na coluna do “credito” e vice-versa, fazendo uma confusão tremenda! Na verificação periódica do “caixa”, quem sofria pânico era o JURANDYR, que também acumulava as funções de tesoureiro. Tanto é verdade, toda a vez que ele perguntava ao PEDRÀO qual o saldo em caixa, este dava um saldo sempre bem maior do que o dinheiro que o JURANDYR tinha nos bolsos. Seguia-se sempre, entre os dois uma delicada troca de insultos. Mas no fim, dava tudo certo. MENANDRO BLANC o infatigável companheiro de “farras” do HELADIO o “pau para toda obra”, e durante toda a caçada foi tão elevada a sua eficiência que consolidou ainda mais a alcunha de “Búfalo Bill” e o justo renome de “Primus inter pares” dos caçadores paranaenses. HELADIO, o nosso discreto e legendário “major”, cuidava com todo zelo da intendência geral e não desmereceu a fama de grande caçador. O elegante e simpático; Dr. JUTAHY VIANNA ESTEVES, irmão do chefe, alem de atuar com destaque e pujança certeira dos tiros, cooperou eficientemente com o Dr. POCI, outro exímio caçador, quer nos curativos de emergência quer atendendo, tanto no acampamento como nas fazendas, às consultas dos fazendeiros e sitiantes das redondezas. Ambos dispensaram aos pacientes as luzes generosas e benfazejas da medicina. JOÃO PEDRO MASINI, EZZIO VIGGIANI e os irmãos HUMBERTO e JOSÉ CICCARINO, foram ótimos caçadores e excelentes encarregados do acampamento. No, entretanto, é preciso que se diga que o mais sacrificado de todos esses encarregados, foi o calouro da turma, o nosso risonho e cordato EZIO VIGGIANI, também conhecido nas rodas familiares e peninsulares pelo cognome de “Zi __uete” (tio padre). Seu principal algoz, porem, foi o Dr. PALMIERI, que fez dele um verdadeiro “burro de carga” da barraca do POCI. Era “EZIO pra cá, EZIO pra lá, limpe isto, remova aquilo”, até o “vaso noturno” do PALMIERI o coitado era obrigado a despejar e lavar... E suportando os suplícios isso tudo o bondoso EZIO fazia... Compenetrado da sua condição de “calouro”, para ganhar os alamares de caçador-veterano! Também o JOSÉ CICCARINO merece as galas de outro destaque para salientar sua loquacidade... Em toda a temporada dos dezessete dias, o nosso bom “JUCA” falou, falou, mas falou no máximo umas... Vinte palavras! Em compensação, o irmão, o nosso HUMBERTO CICCARINO, falou por ele e por toda a turma! Por sua vez, “PEQUENININHO”, o paraguaio de coração paranaense e alma de brasileiro, esmerava-se no preparo da comida, fazendo, de vez em quando, surpresas culinárias para regalo de nossos estômagos. Vale a pena recordar, e isso o fazemos com “água na boca:”, a perdiz no leite, a codorna de caçarola e as repolhudas galinhas com recheio, assadas à maneira dos índios. O POCI e o CICCARINO, também faziam delicias na cozinha, chegando algumas vezes a desbancar o “PEQUENININHO”! O fato mais notável foi a inesquecível macarronada com molho de perdizes e codornas. Era preciso ver como estava cômico o CICCARINO, com aquele avental e gorro branco “a la” mestre cuca... Sobre um caixão previamente lixado e limpo, ele preparou a massa, estendendo-a depois com um pau roliço da barraca do POCI. Este, por sua vez, enrolou a massa, cortando-a em simétricos “talharins”. E com que agilidade; improvisaram tudo. É verdade que depois desse trabalho, havia farinha de trigo esparramada por todo o canto, na cozinha, nas barracas e até nas camas... Mas é verdade também, que duas grandes macarronadas foram feitas e delas não sobrou nem “tiquinho” pra contar a historia! Estavam realmente uma delicia! Não, não é possível. O POCI e o CICCARINO são tão; “bambas” na arte culinária que nos fazem pensar em duas hipóteses: ou noutra encarnação foram duas cobiçadas cozinheiras de alguma abastada família italiana ou, então, devem ter cursado alguma academia de “forno e fogão”. Queremos ficar na segunda hipótese. Todos, enfim, trabalhavam febrilmente nos dias de descanso, inclusive nós que fomos, mais uma vez, encarregados da reportagem descritiva e fotográfica da caçada e também do serviço de recepção ou relações exteriores... E, Oxalá possamos; ter correspondido à confiança que em nós foi depositada. Do contrario, só nos resta pedir benevolência à turma e aos amáveis e pacientes leitores desta consagrada “Caça e Pesca”, pelos senões ou lapsos voluntários e involuntários... Antes, porem; quero confessar que não temos pretensões literárias... E se o quiséssemos, nem poderíamos tê-las, porque para um quase analfabeto, mais difícil se torna a já difícil arte de escrever! Contudo, a reportagem não está terminada. Resta descrever a parte mais notável de toda a caçada e que constituiu seu capitulo mais honroso e culminante:
Depois da memorável caçada o jantar que a turma ofereceu ao Governador Adhemar de Barros na chácara da família Saraceni, S. Excia prestou carinhosa recepção à turma, acolhendo-a, com todas as honras da amizade, no salão vermelho do Palácio dos Campos Elíseos. Vemos, na foto a contar da esquerda: PALMIERI, POCI, JURANDYR, o secretário de segurança o Cel. de Aquino, s. excia o Governador Adhemar de Barros e EUGENIO SARACENI, de pé e na mesma ordem: CHICO VIEIRA, Cap. Condeixas, EZIO VIGGIANI, JOSÉ PEDRO MASINI, JOSÉ IMPÉRIO, Major Heládio Vidal Correa, MENANDRO BLANC, PEDRO DA ROCHA CHUERI, Dr. Benedito Véras, do Gabinete de Investigações.





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