sábado, 30 de maio de 2009

XV - UM CAÇADOR EXIMIO.

Após o almoço e breve repouso, o Sr. Governador resolveu dar uma “pegadinha”. Coube-nos a honra de acompanhá-lo nessa incursão cinegética. Para tal fim, levamos o nosso “Déro”, um perdigueiro mestre com alma de gente. De automóvel fomos até a casa do “Seu Chita”, e dali seguimos a pé até os campos do “Seu Adolfo”, acompanhado pelo prestativo e bondoso amigo Sr. Fausto Pinheiro, dono e escrivão do principal cartório daquela zona. Assim que entramos na campanha interminável, nosso “Déro” iniciou a “busca”, penteando o campo à esquerda e à direita, distanciando-se no máximo uns cem metros. Cada uma dessas batidas de galope espichado só um “pointer” pode fazer com velocidade e elegância, o nosso perdigueiro levanta a cabeça e... Sente o “vento”, segue em “câmara lenta” uns trinta metros, até estacar com a imobilidade de uma estatua! “Déro”, com os músculos retesados e olhos fixos e brilhantes, “cachimbava”... Aguardando a voz de comando. S. Excia aproxima-se, e calmamente manda o cão seguir... Este avança e a perdiz salta farfalhante assustada e num curto encastelamento”, deriva para a esquerda, numa veloz “ponta de asa”. Foi o momento culminante para todos nós, mas o Dr. Adhemar, com rapidez incrível, leva a arma ao ombro e com um tiro certeiro atinge a perdiz, que cai fulminada! “Déro” então vai buscá-la e todo orgulhoso aproxima-se, levanta-se apoiado nas patas traseiras e entrega a perdiz à altura do peito do Sr. Governador, que a recebe acariciando o cão. Ao felicitarmos S. Excia por tão belo tiro, ele agradece mas, delicadamente , afirma não ter sido ele e sim o fator sorte, o único responsável por aquele sucesso! Mas adiante, porem, a mesma cena se repete. “Déro” torna a estacar e o governador abate outra perdiz, esta agora, de “ponta de asa” para a direita! Outro tiro magnífico! Indiscutivelmente o nosso Governador era bom na mira e no gatilho. Para confirmar sua perícia, alem dessas duas perdizes, S. Excia derrubou varias codornas, errando apenas duas! Qual! Não havia mais duvida, e S. Excia não mais podia esconder-se nas névoas da modéstia. Dotado de excepcional calma, julgando com rápido golpe de vista e pronta decisão, S. Excia provara ser um caçador e atirador exímio! E também um bom andarilho, pois, sem treino algum, agüentara firme aqueles seis quilômetros de caminhada! Enquanto caçávamos, ouvia-se do lado oposto o “foguetório” do Chico Vieira, do Capitão Condeixas, do Tenente Delfim e do Dr. Véras que também tinham ido caçar, acompanhados pelo Jurandyr, Menandro e Pedrão. E quando terminamos reunimos na venda do “Seu Chita”, esses simpáticos e dedicados auxiliares do Sr. Governador, não decepcionaram S. Excia, pois, orgulhosos, também traziam, estranguladas nos penduradores, várias codornas! O Mais modesto deles todos foi o Tenente Delfim que, segundo afirmou, abatera cinco codornas, depois de ter assustado e errado mais de vinte! E que aquelas mesmas que derrubara, ele não sabia explicar como tinham caído! A única explicação lógica, segundo ele é a de que tinham morrido... De susto! Na verdade gastaram toda a cartucheira, mas nenhum deles voltara “sapateiro”! E essa é uma questão de honra. As estrelas já luziam na escuridão daquela noite fria, quando regressamos satisfeitos ao acampamento. No jantar, S. Excia não esquecera o “Déro”. Mandou-lhe um bom pedaço de perdiz preparada no leite que o “bicharedo” devorou num instante. Essa homenagem para aquele animalzinho tão humilde e nosso amigo, nos sensibilizou bastante! Depois do jantar e em nome da turma tivemos a honra de saudar o Sr. Governador e sua brilhante comitiva. Falou também o Dr. Jurandyr, tendo S. Excia respondido às alocuções com palavras de amizade e carinho . A seguir nos reunimos ao “pé do fogo” para as anedotas do costume. S. Excia fez, então, causa comum conosco; riu a valer e nos fez rir, como fino “conteur” que é. Já era tarde quando S. Excia e sua comitiva se recolheram à barraca do POCI para dormir. Ao despertar na manhã seguinte S. Excia nos informou que graças à turma, era a primeira vez que em quatorze meses de governo pudera dormir durante nove horas consecutivas! Ficamos satisfeitos com aquele elogio. Antes do café, o Sr. Governador tomou um banho na cachoeira. Depois, S. Excia ficou ali pelo acampamento, de igual para igual, observando, perguntando, “mateando”. Contando episódios interessantes de sua vida, das suas lutas... Reportou-se longamente sobre a política do mundo, do Brasil, dos Estados e, em particular, de São Paulo, revelando-se profundo conhecedor das causas e dos mais sérios problemas que afligem os povos. Falou da doutrina social e progressista, de seus planos e realizações de governo, dos políticos, das injustiças e calunias, das traições e seus “Iscariotes”, da ingratidão, mas em toda a fluência de suas palavras sinceras e candentes de patriotismo, jamais vislumbramos o menor ressentimento ou rancor no coração. Esse o verdadeiro Adhemar de Barros – o patriota, o bandeirante, o estadista, o governador, o político, o médico, o lavrador, o industrial, o esportista, o amigo bom, sincero e leal. E que, de corpo, alma e coração, sempre teve o pensamento e as ações voltadas para o bem de São Paulo e grandeza da Pátria brasileira! Sim! Esse é que é o autentico, o inconfundível Adhemar de Barros que conhecemos e admiramos! O outro Adhemar de Barros, só existe pintado na imaginação facciosa de muitos, e, o que é pior, deformado pelas tintas da Inveja, do despeito e do ódio dos seus inimigos!
Às 14:00 horas foi servido um churrasco que a turma ofereceu ao Dr. Adhemar e demais autoridades, No preparo desse churrasco devemos destacar as habilidades do próprio Capitão Condeixas, do Chico Vieira, do Ten. Delfim e do Antonio Sossela Filho, chofer do governador Moysés Lupion. E sem tirar os méritos dos demais, ao infatigável Sossela é devem caber os maiores louvores, pois, com perícia de veterano, foi ele quem preparou o jirau, os espetos, a carne e o assado desse delicioso repasto. A contribuição maior, porem, foi a do prezado e bondoso amigo Sr. João Ribas, proprietário da Fazenda “Capão Grande”, onde estávamos acampados, e que gentilmente nos presenteou a gorda e magnífica novilha que transformamos nesse inesquecível churrasco. Ao escurecer, lamentamos ter que nos despedir do Chico Vieira, que em missão particular antecipou o seu regresso a São Paulo. A noite repetiu-se a mesma rotina das noites anteriores: jantar, comentários, anedotas e cama.

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